A quantidade de moradores de Piracicaba (SP) com mais de 100 anos diminuiu entre 2000 e 2010, apesar de a população ter aumentado neste mesmo período. É o que apontam os números do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) sobre o censo 2010. A variação também ocorreu em cidades vizinhas, como Limeira (SP) e Santa Bárbara d’Oeste (SP).

Segundo o IBGE, 24 indivíduos em Piracicaba declararam ter 100 anos ou mais no Censo de 2010. Destes, 19 são mulheres, enquanto apenas cinco são homens. Em 2000, 38 pessoas alegaram ter nascido em 1910 ou antes. Na ocasião, apenas mulheres declararam ter mais de um século de vida. A população total do município aumentou de 329.158 para 364.571, o que representa um acréscimo de 10,7%.

Para especialistas, há vários aspectos que explicam essa redução desproporcional da população idosa. A queda na qualidade de vida desses idosos, a diminuição de profissionais na área geriátrica e a mudança destas pessoas para a casa de parentes são alguns deles.

Piracicabana centenária
Lázara Rocha Barros nasceu em Piracicaba e completou 100 anos no último dia 31 de maio. Neste período, governaram 38 prefeitos, 42 governadores e 28 presidentes. Lázara também tesmeunhou duas guerras mundiais, a ascensão e a queda do comunismo na Europa, além da invenção do rádio, da televisão e da internet.

Atualmente, ela mora no bairro Higienópolis, na casa do único filho, Roberto, que é caminhoneiro e passa a maior parte do tempo fora, a trabalho. Quem cuida dela é a nora, Maria Inês, e é sempre visitada pelos três netos e pelas seis bisnetas.

Um dos passatempos de Lázara é pitar um cachimbo, mas sem aspirar a fumaça, pois ela possui os pulmões frágeis e aos finais de semana costuma tomar uns goles de bebida. A idosa nunca trabalhou, pois o marido, falecido há mais de 40 anos, não deixava. Lázara sempre ficou em casa, cuidando da família. Hoje ela é a única de sua geração que ainda está viva. “Me sinto feliz e em paz”, afirmou a centenária.

Dados regionais
A queda na quantidade de pessoas com 100 anos ou mais não é exclusiva de Piracicaba. Limeira possuía 32 idosos centenários em 2000, enquanto dez anos depois 23 pessoas declararam ter mais de um século de vida. A situação foi similar em Santa Bárbara d’Oeste (SP). Lá, 15 indivíduos foram registrados como centenários. Uma década depois esse número passou para 13.

Especialistas opinam
Segundo a geriatra Fátima Bastos, dois motivos podem explicar a queda na quantidade de pessoas com 100 anos ou mais. Um deles é a queda na qualidade de vida dos brasileiros. “Os centenários possuem mais dificuldades por causa da deterioração de seus corpos, o que é natural. A qualidade dos alimentos, do ar e da água não são os mesmos de dez anos atrás, e isso influencia na qualidade de vida”, afirmou.

Outro motivo apontado pela geriatra é a diminuição no número de profissionais que cuidam de idosos. “Precisamos de pessoas mais capacitadas para lidar com pessoas desta idade, desde um terapeuta até um cuidador. Os centenários precisam de um acompanhamento constante”, pontuou Fátima.

Já o analista socioeconômico do IBGE, Jefferson Mariano, alega que a migração pode explicar a queda na quantidade dos centenários em alguns municípios. “Quando os idosos chegam a uma determinada idade, eles costumam se mudar para o imóvel de filhos ou parentes próximos, para serem cuidados. Isso pode explicar a diminuição em algumas cidades”, opinou Mariano.

Fonte: G1